Fobias

- Assuntos Emergentes

Um amigo seu está diante de um penhasco. Ele olha para baixo e vê metros e metros de rochas, árvores e pessoas microscópicas lá embaixo no pé do morro.

Tomar cuidado nesse momento é necessário, pois um pé em falso pode definir o paradigma vida ou morte. Seu coração bate mais rápido, ele sente aquele frio na barriga e finalmente dá um passo atrás. Nesse momento o que ele está sentindo é definitivamente medo.

Em outro caso, um sujeito está no primeiro andar e precisa chegar no quinto andar do shopping para encontrar seus amigos. Ele observa a escada rolante e o elevador. Sem pensar muito, escolhe o elevador. Ao chegar no andar, seus amigos lhe convidam para ver a linda decoração de natal que fizeram nos andares, para isso seria preciso que ele se apoiasse no parapeito para olhar a decoração abaixo. O parapeito é alto e seguro. Todavia, ele não vai. Os amigos insistem. Ele começa a ficar ansioso. Os amigos insistem novamente, agora fazendo chacota. Ele desiste. No fim, acaba sentando num acento qualquer, longe de seus amigos, sofrendo com uma intensa sensação de medo e incapacidade. Mesmo sem entrar em contato direto com a altura seu corpo apresenta taquicardia, sudorese nas mãos, confusão mental, agitação motora e fuga da situação. Nesse momento o que ele está sentindo não é apenas um medo repentino, fugaz. Ele sofre de Fobia de Altura (i.e. Acrofobia).

Os dois episódios possuem várias características em comum. Ambos se expõem à altura, aparecem respostas de defesa do corpo e ambos sentem medo. Mas qual é a diferença entre medo e fobia? Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5 (2013) fobia é uma psicopatologia e está situada na categoria de Transtornos de Ansiedade. Medo, por sua vez, não é considerada uma psicopatologia. Por quê? O medo é uma resposta autônoma do nosso organismo ativada pelo contato com um estímulo aversivo (Hübner & Moreira, 2012). Isto é, quando o estímulo aversivo é apresentado no ambiente, juntamente a um sujeito, seu sistema nervoso identifica este estímulo, secreta adrenalina (entre outros neurotransmissores e hormônios) em seu corpo todo, o que consequentemente resulta em respostas de taquicardia, sudorese, agitação motora, que por sua vez permite que o organismo lute, fuja ou congele na situação. Posto isso, o medo é uma resposta natural do corpo humano que possui um valor intrínseco de sobrevivência para o organismo (Lyons, Harrison, Brewer, Robinsons, Sanders, 2014). Imagine se não tivéssemos medo de um leão feroz? Ou mesmo de um carro descendo ladeira abaixo em alta velocidade? Não responderíamos à situação e obviamente o resultado não seria dos melhores.

Sendo o medo uma resposta de autoproteção do organismo, começamos a entender que podemos e devemos sentir medo, pois ele é um indicador de autoproteção e tem um valor importante para a vida do dia a dia (e.g. estar alerta no trânsito; cuidar do bebê perto da piscina; evitar brigas). Outra questão importante é que o medo, muitas vezes é controlável. Voltando ao exemplo da montanha, o sujeito controlou seu medo dando um passo atrás no penhasco. Quando ele retorna a um lugar longe da possibilidade de morte ou acidente, os batimentos do coração voltam ao estado regular, suas mãos param de suar, sua respiração normaliza. Dando um passo atrás no penhasco ele conseguiu fazer com que as funções de seu corpo normalizassem. De outro modo mais desafiador, ele poderia ficar mais perto do penhasco. Assim, mesmo que seu corpo começasse a apresentar respostas de fuga, o mesmo poderia controlar seu medo pensando: “É só relaxar, me manter firme na posição e ficar atento”. Esse é um dos casos em que há o enfrentamento do medo. Os esportes radicais são produtos desse enfrentamento, a pessoa faz um processo de treinamento prévio, se expõe a situação de perigo, o enfrenta e se controla mantendo o foco na atividade, abstraindo das respostas de medo do corpo, falando consigo mesmo para não deixar que as emoções tomem conta de seu desempenho, entre outros modos de enfrentamento.

Enquanto o medo é em sua grande maioria controlável, as fobias são geralmente incontroláveis. Esta inclusive é uma das características que define a categoria de Transtornos de Ansiedade: incontrolabilidade. Além de ser incontrolável (um dos motivos pelos quais clientes buscam terapia) e ainda pelo fato de pertencer à categoria de Transtornos de Ansiedade, o sujeito sofre antecipadamente ao acontecimento, como no exemplo do rapaz no shopping que sentia medo mesmo antes de entrar em contato com a altura. Então, o medo ocorre no “aqui e agora”, enquanto a fobia prevê uma crescente ansiedade antes de entrar em contato com os estímulos fóbicos diretamente. Casos indiretos em que os efeitos da fobia começam a aparecer no comportamento do sujeito se dão por: pensar nas situações fóbicas, imaginar-se na situação, conversar a respeito, ver alguma coisa no computador que ative as respostas fisiológicas da fobia, entre outras situações em que os estímulos fóbicos não se apresentam diretamente.

Outro fator importantíssimo a ser considerado na distinção entre medo e fobia é seu caráter factual ou não-factual. O medo acontece quando há de fato um ou mais estímulos que ativam as respostas de luta, fuga e congelamento. Já no caso da fobia, encontramos um caráter que muitas vezes não corresponde aos fatos, ou pelo menos possui pouca correspondência. Exemplos disso seriam: Ter fobia de insetos inofensivos como uma borboleta; ter fobia de lugares abertos; fobia de fantasmas, etc. Factualmente, uma borboleta, lugares abertos e fantasmas em si não oferecem qualquer perigo para o sujeito. As borboletas não são peçonhentas, não tem ferrão, não sugam sangue ou algo do gênero. Lugares abertos em si não oferecem riscos, um parque, uma rua, um campo de futebol, por exemplo, não são ambientes para eventos que oferecem perigo por si. Fantasma é mais uma ideia humana do que algo que ocorre no mundo. Que perigo um fantasma poderia oferecer se ele não existe? Sendo assim, a fobia não precisa ser caracterizada por um medo factual. Alguém poderia dizer: “Mas existem pessoas que possuem fobia de animais peçonhentos”. Ok, nada de errado com isso. Se o animal está ali, presente no momento, é saudável ficarmos com medo, pois assim estaríamos nos protegendo de um perigo factual. Agora, sentir medo ao ver um animal peçonhento na televisão, computador, em fotos ou em qualquer outro lugar em que o animal não esteja presente, pode indicar uma característica da fobia que é sua não correspondência aos fatos.

Dentre o diagnóstico de Fobia Específica, que se encontra no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), existem cinco subtipos, que são: animal (ex. aranhas, insetos, cães); ambiente natural (ex. altura, tempestade, água); sangue-injeção-ferimentos (ex. agulhas, procedimentos médicos invasivos); situacional (ex. aviões, elevadores, locais fechados); ou outro (ex. situações que podem levar a asfixia, sons altos, personagens vestidos com fantasias); Vamos expor abaixo algumas das fobias mais comuns que existem:

· Aracnofobia: O medo de aranhas é um dos mais comuns encontrados na literatura e provavelmente o medo campeão no quesito animais, sendo inclusive o nome de um filme trash famosos dos anos 90;

· Agorafobia: A palavra ágora tem origem grega e significa multidão, assembleia, reunião. As ágoras eram as praças onde os antigos gregos se reuniam. A agorafobia é o medo de estar em espaços abertos ou no meio de uma multidão e não ser capaz de sair daquele lugar, ou não receber ajuda necessária. Essa fobia pode ser ocasionada pela ida a eventos de grande porte, como jogos de futebol ou festivais de música;

· Aerofobia: Esse é o medo de estar numa corrente de ar, sendo a forma mais famosa, o medo de andar de avião. Não é raro pegar um voo e ver alguém fechando os olhos, suando ou rezando durante a decolagem, pouso ou turbulência.

Segundo pesquisas, quase 50% da população brasileira apresenta esse medo, em diversos graus, que pode ir desde um desconforto na hora de voar, até a evitação total, fazendo com que a pessoa prefira ir de carro ou ônibus ou até mesmo cancelar a viagem.

· Claustrofobia: Medo de lugares fechados, que pode ser lugares pequenos, como uma sala, um elevador, até lugares maiores, como um ônibus ou avião. A diferença nesse caso é que o medo surge a partir do confinamento do lugar, por exemplo, a pessoa que tem claustrofobia, ao entrar num avião, não terá medo excessivo pela altura, mas sim pelo fato de ter que ficar durante o tempo da viagem fechada em um local, sem chance de sair dali;

· Cinofobia: Num mundo onde os cachorros estão fazendo parte da família, com linhas de remédios e hotéis específicos para eles, existem pessoas que sofrem com o medo de cães, pois cada vez mais, eles estão em todos os lugares. Esse medo pode ser desenvolvido por uma experiência traumática com cães, ou simplesmente pelo fato de saber que um animal pode atacar.

Referências:

American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC: Author.

Hübner, M.M.C., Moreira, M.B., (2012). Fundamentos de Psicologia: Temas Clássicos da Psicologia Sob a Ótica da Análise do Comportamento. São Paulo: Grupo Editorial nacional GEN.

Lyons, M., Harrison, N., Brewer, G., Robinson, S., & Sanders, R. (2014). Biological Psychology. London: Dominic Upton.

Para mais informações, entre em contato conosco ou ligue para (41) 3117- 4546 / (41) 99165-4545 e agende sua consulta com nossos especialistas.

Leandro Duarte Kühl
08/21457

Guilherme Barbosa
08/23101

© 2021 Espaço Konsenti | Todos os Direitos Reservados

Desenvolvido por Agência S3